terça-feira, 7 de junho de 2016

Frutos de arrependimento

Matheus Viana

A mensagem de João, o batista, era clara e sucinta: “Deem fruto que mostre o arrependimento.” (Evangelho segundo Mateus 3:8). Não há como dissocia-la do cristianismo. O apostolo Paulo, seguindo este mote, preconizou: “A tristeza segundo Deus não traz remorso, mas sim um arrependimento que leva à salvação...” (II Coríntios 7:10).

Não há conversão sem arrependimento. Pois um é causa (arrependimento) e o outro é o efeito (conversão). Mas embora seja causa, arrependimento também é um efeito. É a síntese de um processo que começa com a consciência (reconhecimento) do pecado, passa pela confissão (quebrantamento) e aflora na mudança de atitude. Sendo assim, arrependimento começa na mente, o primeiro elemento humano degradado pelo ardiloso argumento da serpente, a fim de atingir o coração (Provérbios 4:23) e ser demonstrada por ações (Tiago 1:22). Isto é culto racional.

Não foi em vão que os registros contidos no Evangelho segundo Mateus e nas cartas de Paulo trazem o termo metanoia para se referir ao arrependimento. Metanoia é mudança de mente. Mas mudança para melhor. A tradução literal do termo é além da mente. Assim sendo, arrependimento não é, em primeiro lugar, produto do racionalismo. A mente humana, por si só, não é capaz de produzi-lo. Arrependimento é o Espírito Santo agindo na mente humana, conforme Jesus advertiu, convencendo o homem de seu pecado e, consequentemente, da justiça e do juízo de Deus (Evangelho segundo João 16:8).

Metanoia é ter a nossa mente transformada para, a partir de então, ser submissa ao conhecimento de Cristo (II Coríntios 10:5). Ambos se dão através da análise, entendimento e conhecimento das Escrituras. Não foi em vão que Jesus afirmou: “Examinai as Escrituras, pois elas de mim testificam.” (Evangelho segundo João 5:39).

Presenciamos um evidente crescimento demográfico de cristãos. Mas, ao contrário de outros momentos da história, ele não tem gerado os efeitos esperados e devidos. Não temos feito diferença nas sociedades as quais a Igreja está inserida pelo fato de que grande parte do atual contingente cristão não passou por uma experiência de conversão. E tal fato se dá por não haver um verdadeiro processo de arrependimento. Este, por sua vez, não ocorre porque o Evangelho de Cristo não tem sido disseminado.

O que vemos atualmente são arremedos de um cristianismo travestido de autoajuda ou de uma filosofia conveniente aos ouvintes. Foi sobre esta realidade que o apóstolo Paulo elucidou: “Pois virá o tempo em que não suportarão a sã doutrina; ao contrário, sentindo coceira nos ouvidos, juntarão mestres para si mesmos, segundo seus próprios desejos. Eles se recusarão a dar ouvidos à verdade, voltando-se para os mitos” (II Timóteo 4:3-4). Este tempo chegou!

Os que se dirigiam até as margens do Jordão para ouvirem e serem batizados por João conheciam a Lei dada por Deus através de Moisés, mas não a praticavam de acordo com a vontade de Deus, como sinal de arrependimento. Logo, tal observância não passava de ritualismo frívolo. Foi então que Deus, através de João, declarou: “Quero que vocês demonstrem, com suas atitudes, o quanto estão arrependidos.” (Cf. Evangelho segundo Mateus 3:8). Deus não tolera justificativas e reivindicações, apenas arrependimento demonstrado por suas atitudes. Qualquer ação destoante deve ser rechaçada: “O machado já está posto à raiz das árvores, e toda árvore que não der bom fruto será cortada e lançada ao fogo.” (Evangelho segundo Mateus 3:10).

O discurso de Jesus tem o mesmo tom. Disse certa vez aos seus discípulos: “Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o agricultor. Todo ramo que, estando em mim, não dá fruto, ele corta...” (Evangelho segundo João 15:3). Veja que Jesus afirma dois aspectos fundamentais: Ele é a videira e o Pai é o agricultor. Nossas ações devem ser resultantes de arrependimento. Apesar de fundamental, tal fato não é suficiente. É preciso que nossas ações sejam produtos do fato de nossa vida estar alicerçada em Cristo. Em linguagem aristotélica, nossos atos devem ter Jesus como potência. Traduzindo, devemos fazer e ensinar o que Jesus fez e ensinou como resultado de sentirmos (Filipenses 2:5, o que não é um mero sentimento) e pensarmos como Ele (I Coríntios 2:16).

Além disso, Deus – o Pai – deve ser o agricultor. É Ele quem efetua em nós o querer e o realizar (Filipenses 2:13). Nossas ações não devem ser frutos de nossos desejos próprios com suas devidas conveniências. A obra é Dele. A colheita é para Ele. Sendo assim, qualquer vanglória humana não tem lugar nem sentido.

Diante disto, reflita: Tens produzido frutos de arrependimento?

Nenhum comentário:

Postar um comentário