sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Ações de graças

O Salmo 100:4 nos propõe: “Entrai pelas portas do Senhor com ações de graças”. Ao ouvirmos a expressão ações de graças, de maneira óbvia pensamos em gratidão. No entanto, com um caráter passivo, cuja síntese se expressa no pedido de obrigado. Depois, surge em nossa alma o senso de dívida de gratidão, um sentimento de retribuirmos o favor recebido.

Mas as ações de graças que o salmista nos propõe vão além de um mero pedido de obrigado e também da responsabilidade da dívida, embora ambos sejam válidos e consideráveis. Sim, Deus espera que de nossos lábios fluam a nossa gratidão a Ele, desde que seja fruto de um coração verdadeiramente grato. Pois, conforme Jesus preconiza: “A boca fala do que está cheio o coração” (Evangelho segundo Mateus 12:34, 15:18). O apóstolo Paulo, em sua carta aos romanos, disse que era devedor para com os judeus, aos gentios e aos bárbaros (Romanos 1:14).

Contudo, em que, afinal, consistem estas ações de graças? O primeiro passo para a resposta é compreendermos a magnitude da Graça que Deus nos concedeu. Pois ações de graças nada mais são do que nossa resposta a Ela. Portanto, como o próprio nome já diz, nossa gratidão a Deus consiste em atitudes, ações.

Temos muito para agradecer. Jeremias sintetiza a Graça de Deus ao ser humano quando diz: “As misericórdias do Senhor são a causa de não sermos consumidos”. (Lamentações 3:22). O fato de acordarmos todas as manhãs é, por si só, motivo de gratidão. Há muitos motivos para serem citados, mas não quero parecer piegas. Todas elas são desdobramentos do fato de que Jesus tomou sobre si a pena de morte que deveria ser aplicada a nós em detrimento de nossos pecados. Por isso o apóstolo Paulo elucida: “Onde abundou o pecado, superabundou a graça”. (Romanos 5:20). Mas antes alertou os “desavisados”: “Todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus”. (Romanos 3:23).

Quando nossa razão é tomada pela consciência de gratidão à Graça de Deus, começamos a compreender que um pedido de obrigado e um sentimento de dívida – a qual nunca conseguiremos, por maior que sejam nossos esforços, retribuir - são pobres diante dela. Vemos então que a manifestação da Graça de Deus possui algumas implicações na vida do agraciado. Todas elas, entretanto, convergem no elemento obediência.

O sentido bíblico de pecado, em suma, é errar o alvo. Que alvo, no entanto, é este? O proposto ao ser humano desde a gênese de sua criação. Podemos concluir então que as nossas ações de graças a Deus consistem em voltarmos a trilhar rumo a este alvo e nele permanecer conforme o apóstolo Paulo adverte: “Prossigo o alvo para o prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus”. (Filipenses 3:14). O escritor aos Hebreus também alerta: “E todos nós, rodeados por tão grande nuvem de testemunhas, livrando-nos de todo desembaraço e do pecado que tenazmente nos assedia, corramos com perseverança a carreira que nos está proposta”. (Hebreus 12:1).

Esta obediência que caracteriza as nossas ações de graças a Deus, no entanto, não possui um caráter de obrigatoriedade, tampouco de temor à penalidade da transgressão. Mas na gratidão pavimentada pelo amor, assim como a Graça de Deus foi fruto de Seu amor por nós. Amor que o apóstolo João elucidou: “Nisto consiste o amor de Deus, não que o tenhamos amado, mas ele nos amou e deu seu filho como propiciação pelos nossos pecados”. (I João 4:10).

Era isso que o apóstolo Paulo quis dizer quando afirmou que não vivemos mais debaixo do jugo da Lei, mas na Graça de Deus (Romanos 6:14). O conceito de amor no A.T possui o caráter de mandamento, e não propriamente de sentimento. Em Deuteronômio 6:4-5, o trecho conhecido como Shemá, Moisés declara: “Ouve, ó Israel, o que o Senhor vosso Deus vos fala. Amarás o Senhor teu Deus de todo o coração, de toda alma e com todo entendimento”. Mandamento que Jesus cita em sua discussão com os saduceus registrada no Evangelho segundo Mateus 22:37.

Um dos alvos propostos por Deus a nós é descrito pelo apóstolo Paulo: “Para que sejais irrepreensíveis e puros, filhos de Deus inculpáveis, no meio de uma geração corrompida e perversa, entre a qual resplandeceis como estrelas no mundo”. (Filipenses 2:15). Ou seja, sermos irrepreensíveis e puros e neste mesmo mote fazermos com que as pessoas que Deus coloca em nossas mãos, sejam filhos, alunos ou discípulos, também sejam. Conforme o apóstolo Paulo afirma: “A ardente expectativa da criação aguarda pela manifestação dos filhos de Deus”. (Romanos 8:19). Para exercermos esta obediência há um método infalível deixado a nós como legado pelo próprio Jesus: o fazer e ensinar. Isto é ações de graças.


Não deixe de ler: Fazer e ensinar

Sermão ministrado no culto de ação de graças do IAVEC no dia 12/12/12



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