sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

Peniel diário - Parte III: A vitória

Matheus Viana

Obs: Para maior compreensão do texto, leia antes as partes I e II.

Diante de tudo isto, surge a questão: Quem era o homem que lutou com Jacó? Antes de refletirmos sobre ela, vamos contextualizá-la: Quem nós encontramos em nossa solitude e, consequentemente, em nossa luta diária? A visão e entendimento que temos sobre quem Deus é determinam nosso relacionamento com Ele e também quem é o nosso verdadeiro objeto de culto. Jacó reconheceu no homem com quem lutava a capacidade de dar-lhe a bênção. Ou seja, o viu apenas como alguém que tinha algo a lhe dar. Desejou receber algo, não oferecer. Sua declaração foi flagrante: “Não te deixarei ir sem que me abençoes.” (Gênesis 32:26).
    
Prática comum no evangelicalismo moderno. Vemos Deus apenas como Aquele que pode nos abençoar resolvendo os nossos problemas, curando as enfermidades que nos assolam, concedendo os nossos desejos... Resumindo: fazendo de nós pessoas ricas, saudáveis e sem nenhum problema. Atributos que, para muitos, são denominados como prosperidade. Tal visão de Deus é fruto de uma mentalidade cegada pelo pecado da egolatria. Foi exatamente isso que o apóstolo Paulo preconizou aos cristãos em Corinto: “Porque o deus deste século cegou o entendimento das pessoas para não lhes resplandecer a luz do evangelho.” (II Coríntios 4:4).

O culto ególatra sempre deseja receber algo. Na contramão, o culto a Deus, que Paulo chamou de racional, busca oferecer algo para Aquele que nos deu Seu bem mais precioso: Jesus Cristo (Cf. Evangelho segundo João 3:16). Por isso Paulo afirmou aos romanos: “Portanto, irmãos, rogo-lhes que se ofereçam em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus; este é o vosso culto racional.” (Romanos 12:1). Não se engane! Qualquer culto diferente deste é idolatria, mesmo que seja realizado em um templo cristão.
    
Em um determinado momento, a perspectiva de Jacó mudou. Não desejou apenas as bênçãos que aquele homem tinha poder para conceder, mas saber quem Ele era. Este é o desejo que deve permear nossa vida. Quem, de fato, Jesus é, independente de Suas bênçãos sobre nós. Afinal, Ele já nos concedeu a maior de todas as bênçãos: a Salvação. Deus tinha assegurado a Moisés todas as bênçãos que alguém, em sua posição e contexto, desejaria. Mesmo assim, Moisés não se satisfez. Rogou pela presença de Deus dizendo: “Se não fores conosco, não nos envies.” (Êxodo 33:15).
    
Desta forma, Jacó venceu (Gênesis 32:28). Como assim? Vencer Deus? É impossível? Concordo. Mas o que Jesus lhe disse naquele momento é que sua vitória consistiu no fato de que seu desejo mudou. Pois quando buscamos a Deus como mero instrumento para recebermos de Suas bênçãos, isso é sintoma de egolatria. Mas, quando desejamos de todo coração, alma e entendimento conhece-Lo, isso é demonstração de que Ele é o nosso objeto de culto. A perspectiva e o desejo de Jacó mudaram. Pois reconheceu que aquele homem era uma teofania do Deus de seus pais Abraão e Isaque. Por isso afirmou: “Vi Deus face a face e, todavia, minha vida foi mudada.” (Gênesis 32:30). 


Esta é a vitória que Jesus deseja que alcancemos, pois foi a vitória que Ele alcançou por nós na Cruz. Ele deseja que, todos os dias, possamos ver Sua Face através das Sagradas Escrituras (Evangelho segundo João 5:39, 14:9) e sejamos por elas transformados. Esta é a bênção que Ele deseja nos conceder como resultado de nosso peniel diário.

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