terça-feira, 3 de julho de 2012

Um ciclo contínuo

A verdade de que o homem não viverá a vida abundante que deseja enquanto estiver distante de seu Criador tem sido relativizada a todo custo. E, infelizmente, o coração de muitos tem sido inflamado desta distorção. Consequentemente, estes a reproduzem através da fala.

Matheus Viana

Jesus disse certa vez: “A boca fala do que está cheio o coração”. (Evangelho segundo Mateus 15:18). Afirmação com vários sentidos. Seu pano de fundo foi o fato de que o que contamina o homem não é o que entra, mas o que sai. Ou seja, a nocividade - efeito colateral - de uma sentença pode ser mais poderosa do que a de um alimento contaminado.

As palavras têm o poder de atingir as emoções e, consequentemente, a personalidade de uma pessoa. E isso pode desencadear uma somatização - quando o físico reflete uma psicopatia. Já a contaminação de um alimento, ainda que seja fatal, atinge apenas o físico.

Uma das principais linguagens de comunicação entre os humanos é a verbal, ou seja, a fala. O filósofo francês Georges Gusdorf, em seu livro A fala, afirma que por ser o homem um ser que fala, a palavra é a senha de entrada no mundo humano. Portanto, lembrando que uma das necessidades cruciais que temos é o relacionamento social e afetivo, a fala é uma ferramenta usada para expressar tanto os nossos pensamentos quanto os nossos sentimentos neste processo.

Como sabemos, o pensamento, em consonância com as emoções, determina o nosso comportamento. Isso mesmo: agimos de acordo com o que pensamos e sentimos. A fala, além de uma linguagem, é uma ação. Ela pode influenciar o modo de pensar, sentir e, consequentemente, agir de uma ou mais pessoas. Temos aqui, portanto, um ciclo: pensamos, sentimos e falamos. Falamos, outros ouvem e aquilo que ouvem determina, de certa forma, a maneira de pensarem, sentirem e agirem.

A questão inicial é: do que está cheio o nosso coração? Mais do que conter um caráter de advertência, ela possui um caráter de zelo. O sábio Salomão preconiza: “De todas as coisas que deves guardar, guardas o coração, pois dele procedem as fontes da vida”. (Provérbios 4:23). O sentido bíblico de ‘coração’ pode ser interpretado como o âmago do ser humano. É neste mote que Jesus repete o mandamento mosaico: “Amarás o Senhor Deus de todo coração, de toda alma e com todo o entendimento”. (Evangelho segundo Mateus 22:37).

Sabemos que o âmago, ou seja, a personalidade de um indivíduo é moldada por suas experiências de vida. Somos produtos daquilo que vivemos. Apesar desta verdade ser a atual, ela não é a original. O ser humano vive de acordo com aquilo que é. O homem, antes da queda, vivia à imagem e à semelhança de Seu Criador porque fora formado de tal modo, ou seja, ele era (Gênesis 2:7). Sua personalidade plena era composta destes dois atributos divinos. Mas a queda inverteu este processo. O homem provou da amarga experiência do pecado (errar o alvo) e passou, a partir de então, a viver pautado por ela.

O que levou Eva a pecar foi o fato de não ter guardado o seu coração. A fala ardilosa de Satanás, travestido de serpente, o inflamou de desejo por algo ilícito. O que saiu da boca do adversário contaminou o coração de Eva e, posteriormente, o de Adão. Por isso, passou a pensar de maneira incoerente ao intelecto imaculado de outrora. Seu sentimento foi acometido pela cobiça e sua consequente ação culminou em morte. Por isso o apóstolo Paulo afirma em sua carta aos romanos: “Por um homem entrou o pecado, e pelo pecado a morte, e a morte passou a todos os homens”. (Romanos 5:12).

Onde está o nosso coração? Do que ele tem se alimentado? O que tem saído de nossos lábios? Os meios de comunicação são peritos em disseminar determinadas ideologias, como se cada uma delas fosse a mais absoluta verdade. No entanto, a própria noção de verdade neste contexto é contraditória, já que vivemos em uma sociedade pautada pelo relativismo oriundo da dialética do filósofo alemão Georg Friedrich Hegel (1770-1831). Para Hegel, a verdade, grosso modo, depende da perspectiva a qual a analisamos. Ou seja, não há absolutos. Sem absolutos, não há verdade. 


O primeiro alvo que Satanás acertou com sua fala foi a relativização da verdade de que Eva morreria – deixaria de ser eterna por ser criada à imagem e à semelhança de Deus – se comesse do fruto proibido (Gênesis 2:17, 3:4). A estratégia não mudou. A verdade de que o homem não viverá a vida abundante que deseja enquanto estiver distante de seu Criador tem sido relativizada a todo custo. E, infelizmente, o coração de muitos tem sido inflamado desta distorção. Consequentemente, estes a reproduzem através da fala. Um ciclo contínuo.

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