quinta-feira, 16 de abril de 2015

Ensaios sobre ‘Influência’ e ‘relevância’ – Parte I

Matheus Viana

Influência é algo prioritário para muitos. Por isso o sentido de suas vidas está intimamente ligado com o número de pessoas que influenciam. Assim, acreditam que tal fato lhes dá credibilidade e autoridade para fazerem, em alguns casos, as coisas mais bizarras e difundirem as ideias mais ilógicas que podemos imaginar. Nutrem um ufanismo travestido de “responsabilidade” e também de “guardião da coerência e do bom senso”. Não classificam suas ações apenas como importantes, mas como fundamentais.

O conceito de influência exercido e difundido atualmente, no entanto, é completamente diferente do encontrado nas Escrituras. Óbvio que não tenho a pretensão de emitir o significado pleno da expressão, tampouco esgotar a extensa reflexão que o tema exige. Mas basta analisarmos alguns trechos das Escrituras, analisando todo seu contexto e não de forma isolada, para vermos que tal fato é evidente.

O apóstolo Paulo advertiu os cristãos da cidade de Corinto: “Sede meus imitadores como eu sou de Cristo.” (I Coríntios 11:1). Aquela era uma Igreja problemática. Em sua carta, lemos Paulo fazendo severas exortações de ordem moral, social e espiritual. É notório que não estava preocupado em “arrebanhar uma multidão” de prosélitos, mas formar pessoas que, seguindo seu exemplo, imitassem a Cristo.

Tal imitar, por sua vez, não consiste, conforme afirmei em outras ocasiões, apenas em repetir movimentos meramente mecânicos. Mas em atitudes resultantes de pensarem e sentirem como Cristo. Por isso elucida tal fato em sua carta aos cristãos de Filipos: “Tede em vós a mesma atitude que houve em Cristo Jesus.” (Filipenses 2:5). Sendo assim, a influência que Paulo exerceu e buscou alcançar não consistiu na uniformidade de rígidos métodos religiosos - vide o concílio de Jerusalém - e eclesiásticos que, infelizmente, são comuns em muitas denominações evangélicas.

O conhecido clamor popular não quer calar: “Somos milhares de evangélicos, mas a sociedade não muda.”. Não se trata de afirmação sensacionalista nem de “fundamentalismo profético”, como alguns me acusam. E sim mera constatação de fatos. O livro Nossa cultura... ou o que restou dela, de Theodore Dalrymple, fala da degradação cultural do ocidente resultante do abandono dos valores contidos na moral judaico-cristã. O livro Calvinismo, de Abraham Kuyper, fala da superior diferença no desenvolvimento que se viu nos séculos XVII e XVIII nas nações protestantes em relação às outras. Desnecessário entrar nos pormenores de A ética protestante e o espírito do capitalismo de Max Weber. Contudo, esta realidade ruiu. Pois, conforme Dalrymple diagnosticou, a sociedade ocidental, que se julga “laica”, se distanciou do cristianismo. Por sua vez, o próprio cristianismo se distanciou de sua essência.

Este afastamento tem se tornado cada vez mais evidente desde o surgimento do movimento neo-pentecostal, onde o Evangelho foi substituído por estratégias de marketing sob o pretexto do “evangelismo de massa”. A ênfase deixou de ser a pregação e prática do Evangelho para ser a “conversão dos incrédulos”. Ou seja, as conversões não são mais o efeito da propagação do Evangelho, mas a causa. Isso em decorrência de deixarem de atribuir a verdadeira conversão à ação do Espírito Santo (Evangelho segundo João 16:8) para atribuir ao “sucesso de suas estratégias evangelísticas”. Com tal inversão de valores, o resultado foi a deturpação do Evangelho para um apelo emotivo carregado de autoajuda do começo ao fim.

Multidão e disseminação do Evangelho são compatíveis? Para responder tal questão, algumas ponderações devem ser consideradas. Jesus, conforme fazia costumeiramente, certa vez O pregou para uma grande multidão de ouvintes (Evangelho segundo João 6:22-25). Quando terminou Seu discurso, ouviu, de pronto, os discípulos dizendo: “Dura é essa palavra. Quem pode suportá-la?”. Mesmo assim, Ele não aliviou e continuou ensinando o verdadeiro caráter de Seu Evangelho (Evangelho segundo João 6:61-65). O resultado? “Daquela hora em diante, muitos dos seus discípulos voltaram atrás e deixaram de segui-lo.” (Vs. 66). Qual foi a atitude súbita de Jesus? “Jesus perguntou aos doze: “Vocês também não querem ir?”.

Jesus conhecia a plenitude do propósito do Pai, por ser Deus, que repousava sobre a escolha que fizera dos doze discípulos, inclusive o que O haveria de trair (Evangelho segundo João 6:70). Mas a mensagem que queria emitir é que o Evangelho, em nenhuma ocasião, deve ser mudado ou deturpado. Nosso compromisso deve ser em proclamá-lo na íntegra, custe o que custar. Mesmo que isso redunde no abandono de todos aqueles que nos rodeiam. Jesus é tão enfático em relação a isso que advertiu Seus discípulos: “Não pensem que vim trazer paz a terra: não vim trazer paz, mas espada. Pois eu vim para fazer que: ‘o homem fique contra seu pai, a filha contra a sua mãe, a nora contra sua sogra; os inimigos do homem serão os de sua própria família.’” (Evangelho segundo Mateus 10:34-26).

Jesus não estava pregando a dissolução familiar, e sim esclarecendo que a imutabilidade do Evangelho deve ser mantida a qualquer preço, mesmo que seja a causa de uma perseguição como era comum no contexto judaico que, por exemplo, fundamentou a perseguição do judaísmo aos cristãos no primeiro século da era cristã. Importante também notar que o Evangelho de Jesus não veio “trazer paz”. Posso ouvir o bradar contrariado de alguns: “Como assim?”. Jesus não veio trazer a paz que o mundo oferece (Evangelho segundo João 14:27). Contudo, a paz de Cristo, infelizmente, tem sido interpretada como conforto e também como uma contextualização evangélica que redunda na maior aglutinação de pessoas que seja possível. Isto não é Evangelho...

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