domingo, 9 de junho de 2013

Ensaios sobre a prosperidade – Parte II

Jesus no Getsêmani: batalha entre alma e Espírito
Matheus Viana

Concluído o que é, de fato, prosperidade de acordo com as Escrituras, passemos para o passo seguinte. Conforme o apóstolo João deseja em relação a Gaio, o principal alvo da prosperidade deve ser a nossa alma para que ela possa atingir todos os outros níveis da nossa vida.

Mas, afinal, o que é a alma? O senso comum diz que é a sede de nossos sentimentos e emoções. Será apenas isso? A Bíblia diz que ela é mais do que isso. A filosofia também. As ciências que a estudam, como a psiquiatria e a psicologia, com suas ramificações, também. Poderíamos fazer uma breve síntese dos muitos conceitos existentes. Contudo, meu tempo e sua paciência não permitem.

Vejamos, de maneira sucinta, o relato bíblico de Gênesis 2:7: “E formou Deus o homem do pó da terra, e soprou em suas narinas o fôlego de vida, e o homem se tornou alma vivente”. Em algumas traduções, o termo ser aparece no lugar de alma. Vemos então que Deus fez um corpo para o homem, soprou sobre ele de Seu fôlego de vida, que é Seu próprio Espírito, e o homem, a partir de então, se tornou alma, um ser vivente. O que denota o fato de que a alma é a personalidade do ser humano. Por sua vez, esta alma habita em um corpo, e, quando ele reconhece Jesus como Senhor e Salvador de sua vida (Evangelho segundo João 1:12), o Espírito de Deus volta a habitar em seu interior.

Mas há um ensinamento de que somos um espírito, possuímos uma alma e habitamos em um corpo, baseado em uma interpretação dos ensinamentos do apóstolo Paulo. Refletiremos sobre isto em outra oportunidade.

Sabemos que o ser humano provou o dissabor da morte em decorrência de seu pecado (Romanos 5:12). E esta morte passou por dois momentos: a thanatos, onde o Espírito de Deus (pneumatós) deixou de habitar no interior do homem, e este é o motivo que leva Paulo a afirmar que estávamos mortos em nossos delitos e pecados (Efésios 2:1); e a nekros, onde ele passa a ser suscetível à morte física.

Portanto, a alma é o nosso eu. O eu humano foi o principal alvo dos filósofos gregos e também é da filosofia e da ciência contemporânea. O entendimento hebraico, no entanto, diz que o eu humano é o coração. Não o nosso coração físico, mas o âmago de nossa existência que, por exemplo, Platão define como "razão", Descartes define como "ser pensante" e Schopenhauer como "vontade". A alma, no entanto, fica sendo parte deste eu. O sábio Salomão adverte: “De tudo o que deves guardar, guardas o coração, pois dele procedem todas as fontes da vida.” (Provérbios 4:23).

Jesus exortou Seus discípulos: “Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a tua cruz e siga-me.” (Evangelho segundo João 16:24). O negar a si mesmo proposto por Ele é renunciar este eu como fruto do Shemá que repetiu aos saduceus: “Amarás o Senhor teu Deus de todo o coração, de toda alma e com todo o entendimento.” (Deuteronômio 6:5, Evangelho segundo Mateus 22:37). Amar a Deus com todo o nosso eu e, consequentemente, com a vontade, sentimento, razão e entendimento.

O apóstolo Paulo, que em suas cartas se refere por várias vezes ao pneuma (espírito humano), cujas razões trataremos em outra oportunidade, em um de seus ensinamentos diz que o primeiro Adão foi alma vivente, e o segundo Adão, Jesus, tornou-se Espírito vivificante. Com isso, estava dizendo que, apesar de o nosso eu ser a alma, devemos pautar a nossa vida pela ação vivificante do Espírito de Deus em nós a fim de que, como Paulo idealizou, não seja mais nós mesmos (nosso coração ou nossa alma), mas que Cristo (Seu Espírito) viva plenamente em nós (Gálatas 2:20).

O “jardim” como campo de batalha

A prosperidade de nossa alma demanda uma árdua batalha. Não é em vão que o apóstolo Paulo exorta: “Revesti-vos de toda a armadura de Deus, para que possais estar firmes contra as astutas ciladas do diabo.” (Efésios 6:11). No jardim do Éden, o ser humano travou uma batalha contra a sua alma e perdeu (Gênesis 3:5-7). Jesus travou a mesma batalha em outro jardim, o do Getsêmani, e foi vitorioso (Evangelho segundo Mateus 26:39). Sua oração é emblemática: “Não seja como eu quero, mas como tu queres.”. Como homem, Jesus renunciou sua alma para obedecer o plano ao qual Se submetera antes da fundação do mundo (Apocalipse 13:8). E por isso renunciou sua  personalidade humana para se render ao Espírito vivificante de Deus para que possamos proceder da mesma forma. Este foi o exemplo vivo do que dissera em Mateus 16:24: o negar a si mesmo.

Esta é a prosperidade que João deseja a Gaio: ser próspero em seu eu. Mas, diferente do existencialismo vigente, esta prosperidade consiste exatamente em sua morte. Pois só seremos verdadeiramente prósperos quando renunciarmos nossa alma vivente a fim de que o Espírito vivificante de Deus habite e se manifeste em nós e através de nós.

Leia também: A essência humana.

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