terça-feira, 28 de abril de 2015

O supremo ministério

Matheus Viana

“Se alguém não cuida de seus parentes, e especialmente dos de sua própria família, negou a fé e é pior que um incrédulo.” (I Timóteo 5:8).

Esta foi uma advertência fundamental e norteadora para o ministério de Timóteo proferida pelo apóstolo Paulo. Mas ela, atualmente, não tem sido devidamente observada. Por isso muitas famílias são “sacrificadas em prol do Reino de Deus”. Contudo, pensemos: É sensato dizer que o Reino de Deus veio “sacrificar” algo tão precioso para o próprio Deus? Claro que não. Tal filosofia é apenas mais uma das várias distorções que o Evangelho tem sofrido. E como tem sofrido...

O valor da família vem sendo sucumbido em detrimento do “êxito ministerial” (leia-se crescimento numérico), principalmente nos sistemas eclesiásticos que enfatizam a “conversão dos incrédulos” em detrimento da proclamação do Evangelho. Embora afirmem: “família é a célula principal”, a realidade é bem distante de tal verdade. Contudo, conforme o apóstolo Paulo exorta, não adianta uma pessoa se esforçar por arrebanhar uma “multidão de convertidos” (algo possível somente pela obra do Espírito Santo através da proclamação do verdadeiro Evangelho, e não do “sucesso” de estratégias de evangelismo, importante enfatizar este ponto) e deixar perecer sua família.

Não adianta um homem estar à frente de um ministério pastoral e não exercer o sacerdócio no lar. Lembrando que um dos principais atributos de um líder na casa de Deus (pastor, bispo, presbíteros e diáconos) é “governar bem sua própria família.” (I Timóteo 3:4). Pois de que adianta você ser um “bom pastor” e seu cônjuge carecer de necessidades básicas como carinho, atenção e afeto? Nada!

Não podemos, segundo a Bíblia, afirmar que um ministério deste caráter é uma expressão do “Reino de Deus”. O Reino de Deus (genuíno) abarca a família. Conforme bradou Josué: “Eu e a minha casa serviremos ao Senhor.” (Josué 24:15). Neste mesmo mote, o apóstolo Paulo declarou ao proclamar o Evangelho ao carcereiro: “Creia no Senhor Jesus e serão salvos você e os de sua casa.” (Atos 16:32).

Pastores que se prezem não podem permitir que líderes de suas congregações estejam liderando ministérios enquanto seus familiares padecem em alguma área de suas vidas. Pois qual a autoridade destes líderes em serem ministros de Deus para famílias se eles não têm exercido o sacerdócio em seus próprios lares (tanto na questão conjugal como nas questões de paternidade e de filiação)? Onde fica o ideal: “família, célula principal? Apenas como objeto de decoração em uma das paredes de seus respectivos templos. Esta é a questão que Paulo trata com Timóteo: não é possível ser um sacerdote na igreja sem antes ser um sacerdote no lar.

Outra coisa que deve ser observada é que ministério não é “lugar de refúgio” para pessoas que enfrentam problemas em suas famílias. Ministério não isenta o indivíduo de seus deveres como sacerdote de seu lar. No âmbito do Reino de Deus, não existe êxito ministerial dissociado de êxito familiar. E sabemos bem que não existe família perfeita. Todos nós temos problemas, pois somos indivíduos imperfeitos. Por isso Deus, baseado no pleno e perfeito sacerdócio de Jesus Cristo, instituiu o marido como sacerdote do lar. Baseado em tal atributo, o apóstolo Paulo preconiza: “Mulheres, sujeite-se cada uma a seu marido, como ao Senhor, pois o marido é o cabeça da mulher, como também Cristo é o cabeça da igreja, que é o seu corpo, do qual Ele é o Salvador. (...) Maridos, ame cada um a sua mulher, assim como Cristo amou a igreja e se entregou por ela.” (Efésios 5:22-25).

O êxito de Jesus, demonstrado em Seu bradar: “Está consumado.” (Evangelho segundo João 19:30) se deu em virtude de Sua entrega plena à nós, Sua Igreja. O que isto significa? Que seremos verdadeiramente exitosos, de acordo com a perspectiva divina, em nossos ministérios na medida em que amarmos as nossas esposas da mesma forma que Cristo nos amou ao ponto de dar sua vida por nós. Pois Seu modo de agir não é apenas o modelo, mas o alicerce de nosso ministério. Qualquer “alicerce” diferente deste não é Evangelho.

Sendo assim, qualquer devoção a um trabalho ministerial sem a devoção conjugal é vã e, digo mais: está completamente separada do padrão do Reino de Deus, manifesto na entrega de Jesus Cristo por Sua amada noiva chamada Igreja. Este é o grande mistério elucidado pelo apóstolo Paulo: “Este é um mistério profundo; refiro-me, porém, a Cristo e à Igreja. Portanto, cada um de vocês também ame a sua mulher como a si mesmo, e a mulher trate o marido com todo o respeito.” (Efésios 5:32-33).

Pastores, ajam como tais e não permitam que pessoas se esforcem em seus respectivos ministérios eclesiásticos sem exercerem, de maneira devida e bíblica, o sacerdócio do lar! Estejam atentos às condições conjugais de seus membros desprovidos de toda conveniência e ambição “evangelical” (leia-se, repito, crescimento demográfico de suas congregações)!

Pois é sobre a família que repousa a primeira profecia estabelecida sobre o patriarca (este sim, um legítimo) Abraão: “Se tu uma benção. Abençoarei os que te abençoarem e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem. Em ti serão benditas todas as FAMÍLIAS da terra.” (Gênesis 12:2-3, ênfase acrescentada). Sem famílias restauradas não há manifestação do Reino de Deus. Portanto, cuidemos bem das nossas! Pois elas são o nosso Supremo ministério.

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