segunda-feira, 30 de julho de 2012

Os pacificadores


A paz que Jesus veio estabelecer, como extensão de Seu caráter, é diferente – divergente, em muitos casos – da que conhecemos em nosso senso comum. Ela não será estabelecida enquanto as obras do ‘deus deste século’ cegar o entendimento das pessoas (II Coríntios 4:4).

Matheus Viana

 “Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus.” (Evangelho segundo Mateus 5:9).

Viver o Cristianismo consiste em exercer a paz. O escritor da carta aos hebreus preconiza: “Segui a paz com todos e a santificação sem a qual ninguém verá o Senhor”. (Hebreus 12:14). Isso se dá pelo fato de ‘paz’ ser um dos atributos fundamentais do caráter de Jesus, o Cristo. Isaías, acerca dEle, profetizou: “Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu, e o governo está sobre os seus ombros e o seu nome será: Maravilhoso, Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz.” (Isaías 9:6).

Contudo, a paz que Jesus veio estabelecer sobre a terra, como extensão de Seu caráter, é diferente – divergente, em muitos casos – da que conhecemos em nosso senso comum. O próprio Jesus orienta: “Minha paz vos dou, não como o mundo a dá”. (Evangelho segundo João 14:27). O que cria em nós a necessidade de conhecermos a plenitude desta paz. Para isto, utilizemos o método socrático.

Qual a Logos (razão) da paz? Conforme vimos no texto ‘A verdadeira escada do êxito’, Sócrates formulava questões em busca da conceituação completa do objeto de seu pensamento. Pois, para ele, este conceito só seria formado quando descobrisse o propósito e o processo de existência e do funcionamento de tal objeto.

É interessante o fato de o apóstolo João conceituar Jesus como a Logos de Deus quando diz: “No princípio era a Palavra, a Palavra estava com Deus e era Deus.” (Evangelho segundo João 1:1). Em algumas traduções, a expressão usada no lugar de ‘Palavra’ é ‘Verbo’.

Mas a expressão Logos – que aparece no original grego -, conforme o senso comum, não se refere apenas à palavra escrita. João usou esta expressão em virtude da influência que o significado que Sócrates aplicou a ela exercia. Ou seja, Logos é a Palavra viva que gerou a existência de todas as coisas, conforme narrado em Gênesis 1. A Palavra de Deus que executa a ação criadora em virtude do poder que é liberado (Evangelho segundo João 6:63). Podemos então afirmar que Jesus, a Logos de Deus, é a Palavra que gera uma ação criadora ou restauradora (verbo) em virtude do poder liberado para um propósito (razão), oriundo de uma consciência, definido. Logos, portanto, é constituída de ação, poder e razão.

O apóstolo Paulo diz que “Porque dele, por ele, e para ele são todas as coisas.” (Romanos 11:36). Jesus é a ação, o poder e a razão de Deus aos homens. Por isso nossa fé nEle, além de considerar os preceitos ação (atitude) e poder (ação do Espírito Santo), não pode ser desprovida de razão.

Jesus, conforme Ele mesmo afirmou, não veio trazer paz, mas espada (Evangelho segundo Mateus 10:34). Intento paradoxal? Positivo se o seu conceito de paz estiver sob a perspectiva humana. Negativo se estiver sob a perspectiva divina. O apóstolo João revela o intento da encarnação de Jesus: “Para isto se manifestou o filho de Deus, para destruir as obras do maligno”. (I João 3:8). A plenitude de Sua obra depende disto. Foi exatamente o que Ele fez ao suportar e vencer a cruz ao ponto de bradar: “Está consumado!” (Evangelho segundo João 19:30). Não há salvação sem destruição do pecado e de sua consequente maldição. Não há nova vida sem a destruição da velha (II Coríntios 5:17).

Este é o sentido empregado no texto da carta aos hebreus: “Segui a paz com todos e a santificação sem a qual ninguém verá o Senhor”. Não há paz sem santificação. E não há santificação – triunfo da vontade de Deus sobre a humana – sem destruição do pecado, chamado pelo apóstolo Paulo de “obras da carne”. E este só pode ser destruído por meio da cruz. Por isso, Jesus ordena: “Aquele que quiser me seguir, negue-se a si mesmo, tome cada um a sua cruz e siga-me”. (Evangelho segundo Mateus 16:24). Resumindo: não há paz sem cruz.


Fomos chamados para sermos pacificadores. Fato que consiste em destruirmos as obras do maligno. Não é possível ter paz com Deus vivendo uma vida de pecado. Assim como não é possível a paz entre dois cônjuges quando um deles vive em adultério. A paz de Cristo não será estabelecida na terra (Evangelho segundo Mateus 6:10) enquanto as obras do “deus deste século” cegar o entendimento das pessoas (II Coríntios 4:4). É preciso destruí-las. Esta é a ardente expectativa da criação (Romanos 8:19). Isso mesmo! A manifestação dos filhos de Deus que, conforme Jesus afirmou em Seu sermão da montanha, são estes ‘pacificadores’.

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