quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Síndrome de Lázaro


Parte I - Por vezes, somos acometidos pela síndrome de Lázaro. Vemo-nos enredados por enfermidades ou situações de desalentos, e Deus as usa para glorificar Seu nome. Sarcasmo? De modo algum! É mera soberania. Privilegiados são aqueles que sofrem pelo Seu nome (Evangelho segundo Mateus 5:10) em qualquer esfera.

Matheus Viana

Todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus (Romanos 8:28). Verdade explícita no episódio narrado no capítulo 11 do Evangelho segundo João: o adoecimento, morte e ressurreição de Lázaro.

O versículo 4 diz: “E Jesus, ouvindo isto, disse: Esta enfermidade não é para morte, mas para glória de Deus, para que o Filho de Deus seja glorificado por ela”. Relato intrigante! Um homem, amado por Jesus, adoeceu para que a glória de Deus fosse manifesta? Isso mesmo! Ao contrário do que afirmam os triunfalistas, cristãos, conforme o próprio Jesus preconizou, passam por situações difíceis (Evangelho segundo João 16:33). A vida abundante que Ele nos concede (Evangelho segundo João 10:10) não nos isenta de lutas nem tampouco de enfermidades. Mas nos garante, em toda e qualquer situação, a vitória (Romanos 8:37) segundo o conceito divino. Pois o que é vitória para Deus nem sempre é para nós. A recíproca também é verdadeira.

Por vezes, somos acometidos pela síndrome de Lázaro. Vemo-nos enredados por enfermidades ou situações de desalentos, e Deus as usa para glorificar Seu nome. Sarcasmo? De modo algum! É mera soberania. Privilegiados são aqueles que sofrem pelo Seu nome (Evangelho segundo Mateus 5:10) em qualquer esfera. Eu que o diga! Há 14 anos sofro de uma severa deformidade óssea que compromete órgãos vitais como pulmão e coração. Glória a Deus por isso.

É interessante a atitude de Jesus ao ouvir sobre o fato. Permaneceu onde estava por mais dois dias. Desconsideração? Claro que não! Mesmo à distância, Ele tinha controle da situação, pois, apesar de ser homem, era Deus. Jesus não apenas deixou de ir ao encontro das irmãs de Lázaro no tempo solicitado, mas pegou um caminho contrário. Ao invés de ir para Betânia, onde era aguardado, foi para a Judeia, lugar onde os judeus tentaram apedrejá-lo (Evangelho segundo João 11:8).

Questionado pelos Seus discípulos sobre esta decisão inusitada, respondeu: “... Não há doze horas no dia? Se alguém andar de dia, não tropeça, porque vê a luz deste mundo.” (Evangelho segundo João 11:9). Andar de dia. Uma metáfora espiritual que determina nossa atitude natural. Jesus é a estrela da manhã (Apocalipse 22:16). O resplandecente sol de onde emana a luz que ilumina os nossos caminhos (Salmos 119:105). Caminhar de dia implica em andar sob a égide de Sua Palavra. De Sua logos (razão) que é Espírito e vida (Evangelho segundo João 6:63) de modo que os Seus caminhos sejam os nossos (Isaías 55:8-9).

Contudo, Lázaro morre (Evangelho segundo João 11:11). Como? Jesus afirmou que a enfermidade que o acometia não era para morte. Jesus mentiu? Não! Dolo algum foi encontrado em Sua boca (Hebreus 4:15, I Pedro 2:22). O conceito de morte para Jesus é diferente do que é para nós. Por isso disse em relação à filha de Jairo: “Retirai-vos, que a menina não está morta, mas dorme. E riam-se dele.” (Evangelho segundo Mateus 9:24).

Para que a vida de Deus se manifeste a nós – e através de nós -, precisamos morrer. Seu fôlego de vida, o Espírito Santo (Pneumatos), só pode agir onde não há vida. Foi assim com o ser humano no princípio (Gênesis 2:7). Foi assim com Jesus (Romanos 8:11). Não é diferente conosco. Quando Jesus aparece aos discípulos após ressuscitar, e sopra sobre eles o Espírito Santo, fez pelo fato de terem renunciado suas vidas de modo a atender o conclamar do Mestre (Evangelho segundo João 20:19-23). Nossa vontade própria precisa morrer (Romanos 8:13, Colossenses 3:5). Pois é ela que nos conduz aos feitos da carne que nos leva ao pecado (Tiago 1:14). Morte em Deus produz vida (Evangelho segundo Mateus 10:39).

Neste contexto, vemos a participação ativa e relevante de um dos discípulos de Jesus: Tomé, chamado Dídimo (Evangelho segundo João 11:16). E ele propõe: “... Vamos também para morrermos com ele”. Assim como Lázaro morreu, precisamos mortificar os feitos de nossa carne para, assim como ele ressuscitou e foi usado como instrumento para a manifestação da glória de Deus aos homens, venhamos a ser. Mas não é só isso o que a atitude de Tomé transmite.

Os nomes Tomé, no aramaico, e Dídimo, no grego, significam “gêmeo”. A mensagem explícita, portanto, é a de que o propósito de Deus a nós é a de que sejamos restaurados à imagem de Jesus (Romanos 8:29, Efésios 4:13). O homem, no princípio, era “gêmeo” (à imagem - também conhecida como imago Dei) de Jesus. Pois fora formado, ou seja, feito conforme um modelo. E este modelo era Jesus, a imagem do Deus invisível (Colossenses 1:15), e que se fez homem (Evangelho segundo João 1:14). Não é em vão que o apóstolo Paulo elucida: “O primeiro Adão foi feito alma vivente, já o segundo Adão (Jesus), espírito vivificante.” (I Coríntios 15:45). Esta restauração, contudo, se dará na medida em que nossa “velha criatura” morrer para que a "nova criatura" (II Coríntios 5:17), originária no Espírito Santo, manifeste. Esta é a implicação da ressurreição que Jesus operou em Lázaro às nossas vidas (Evangelho segundo João 11:23).

Há mais a falar sobre este episódio impactante. Mas o meu tempo e a sua paciência se esgotaram. Continuamos na próxima parte!

Nenhum comentário:

Postar um comentário