quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Consciência de pedra


Não podemos ter a nossa consciência determinada pelo materialismo (pão), mas por uma cosmovisão cristã pavimentada pelo caráter de Cristo, a Pedra angular (Efésios 2:20), e por Sua Palavra que é Espírito e vida (Evangelho segundo João 6:63).

Matheus Viana

Ao meditarmos sobre o diálogo entre Jesus e o tentador, vemos a proposta para que o Filho de Deus transformasse pedra em pão. O motivo? Jesus estava com fome. Demonstração de que Ele, apesar de ser Deus, também era homem.

Quando Karl Marx, usando a dialética hegeliana, teoriza o materialismo, o intuito é de apontar as mazelas do modo de produção capitalista e a opressão da elite burguesa sobre a classe operária no Século XIX. Ou seja, existia uma “fome de justiça” social.

Marx disseca o processo histórico e a dicotomia de classes nele ocorrida em razão da transformação dialética. Usando a forma clássica: tese + antítese = síntese, apontou as principais transformações sociais e os modos de produção delas provenientes. Exemplo: usando os senhores de terras (suseranos) como ‘tese’ e os vassalos (arrendatários) como ‘antítese’, temos como síntese (resultado) o feudalismo; usando os burgueses como ‘tese’ e os operários como ‘antítese’, temos como síntese o capitalismo.

Por isso, Marx afirma que a consciência do homem é determinada pelo seu ser social. Como ele é responsável pelo processo de transformação de sua realidade, deve criar meios para acabar com este abismo social, ou seja, “saciar a fome de justiça” por meio do processo revolucionário. Processo que consiste, conforme o próprio Marx afirmou: “na derrubada violenta de toda ordem social”, também chamada por ele e pelos seus simpatizantes de “ditadura do proletariado”.

Assim como no deserto, Marx se deparou com uma necessidade. Mas os meios de saciá-la não são lícitos. O tentador queria que Jesus condicionasse Sua consciência, e consequentemente Suas ações, ao patamar materialista, natural. Contudo, sabemos que a essência de alguém verdadeiramente nascido de Deus, apesar de estar também pavimentada pela razão, é sobrenatural.

Antes da queda, a trinomia humana era definida como ser-pensar-agir. O ser humano, conforme o livro de Gênesis relata, foi formado à imagem e conforme a semelhança de Deus (Gênesis 2:7) como consequência do estabelecimento prévio da vontade e do propósito divinos (Gênesis 1:26-28). Portanto, o ser humano, por ser formado à imagem de Deus, pensava de acordo com Sua vontade e propósito e agia segundo tal consciência. Mas a queda mudou drasticamente tal realidade.

Satanás, travestido de serpente, deturpou, com seu argumento ardiloso, a consciência (maneira de pensar) de Eva (Gênesis 3:1-5). Por pensar que a desobediência seria, naquele contexto, uma proposta interessante – já que, segundo seu entendimento deturpado, se tornaria como Deus, conhecedora do bem e do mal -, Eva tornou-se uma desobediente em potencial. Fato que desencadeou em toda a humanidade como um efeito cascata (Romanos 5:12). O apóstolo Tiago elucida sobre este fato dizendo: “Mas cada um é tentado, quando atraído e engodado pela sua própria concupiscência.” (Tiago 1:14).

O ato de desobedecer, no entanto, era questão de oportunidade. E ela estava bem ali na sua frente. Não deu outra. Usando a teoria ‘ato-potência’ de Aristóteles para compreendermos o fato, a desobediência foi o ato do que Eva se tornou em potência por conta de sua maneira de pensar contrária à vontade e ao propósito divinos. A partir de então, a trinomia humana passou a ser definida como pensar-ser-agir. O ser humano pensa, sua consciência determina o que ele é e seu ser, consequentemente, pavimenta suas ações.

Sim, o plano de Deus ao homem é restaurar sua essência de modo que ele volte a ser (Efésios 4:13), a pensar (I Coríntios 2:16) e a agir (I João 2:6) como Jesus, a imagem do Deus invisível (Colossenses 1:15) segundo a qual fomos formados. Para isso, não podemos ter a nossa consciência determinada pelo materialismo (pão), mas por uma cosmovisão cristã pavimentada pelo caráter de Cristo, a Pedra angular (Efésios 2:20), e por Sua Palavra que é Espírito e vida (Evangelho segundo João 6:63). É por isso que Ele, diante da tentação, bradou: “Está escrito: Nem só de pão viverá o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus.” (Evangelho segundo Mateus 4:4). 

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