segunda-feira, 15 de junho de 2015

Aprendendo a humildade - Parte I

Matheus Viana

Aprender, por si só, é um ato que implica em ser humilde. O culto racional que Deus deseja de nós também consiste em aprendermos todas as coisas que Jesus fez e ensinou (Evangelho segundo João 14:26, Atos 1:1). Entre elas está a humildade. Não é possível exercer cristianismo sem tal quesito. No entanto, o que é humildade? O que é ser humilde? Na árdua tentativa de responder tais questões, surge outra indagação: “como ser humilde?” Para respondê-la é necessário, primeiramente, responder as duas anteriores.

Fomos formados à imagem e semelhança de Deus (Gênesis 1:26-27, 2:7). Atributos que não se referem ao âmbito físico, mas ético. Há de considerar, todavia, que o termo ético não se resume ao conjunto de leis e normas, mas refere-se à plenitude do propósito que levou Deus a nos criar: pensarmos, sentirmos e agirmos de acordo com Sua soberana vontade. Por isso, fomos feitos de acordo com um modelo: Jesus.

Sobre isso, o apóstolo Paulo diz: “Jesus é a imagem do Deus invisível.” (Colossenses 1:15) em consonância com o apóstolo João: “Aquele que é a Palavra tornou-se carne e viveu entre nós. Vimos a sua glória, glória como do Unigênito vindo do Pai, cheio de graça e verdade.” (Evangelho segundo João 1:14). Jesus Se encarnou para ser o modelo de ser humano que Deus deseja que sejamos. É isso que Paulo quis dizer quando afirmou aos romanos: “Aos que de antemão os escolheu, também os predestinou para serem conformes à imagem de Seu filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos.” (Romanos 8:29).

Por que digo tudo isto? Para evidenciar o fato de que Jesus é o modelo soberano de humanidade e, consequentemente, também de humildade. Portanto, para respondermos as questões citadas anteriormente, é necessário analisarmos a humildade exercida por Jesus Cristo. Paulo elucida sobre ela em sua carta aos filipenses:

“Nada façam por ambição egoísta ou por vaidade, mas humildemente considerem os outros superiores a si mesmos. Cada um cuide, não somente de seus interesses, mas também dos interesses dos outros. Seja a atitude de vocês a mesma de Cristo Jesus, que, embora sendo Deus não considerou que o ser igual a Deus era algo a qual devia apegar-se; mas esvaziou a si mesmo, vindo a ser servo, tornando-se semelhante aos homens. E, sendo encontrado em forma humana, humilhou-se a si mesmo, e foi obediente até a morte, e morte de cruz.” (Filipenses 2:3-8).

Antes, porém, de entrarmos nos pormenores desta detalhada narrativa, reflitamos sobre as palavras do próprio Jesus: “... aprendei de mim que sou manso e humilde de coração...” (Evangelho segundo Mateus 11:29). Vemos aqui que a humildade de Jesus é precedida pela mansidão. As perguntas feitas no início deste texto são pertinentes também neste momento: O que é mansidão? O que é ser manso? Como ser manso?

Mansidão é obediência. Ser manso é ser obediente. Somos mansos obedecendo. Jesus, em tudo, foi obediente ao Pai. Tal atributo foi uma das características de Sua identidade: “... a própria obra que o Pai me deu para concluir, e que estou realizando, testemunha que o Pai me enviou.” (Evangelho segundo João 5:39). Sua mansidão (obediência) constante testificava de que era o Messias.

Não era, portanto, uma obediência forçada, mas plena submissão que foi produto de Seu desejo de Se submeter. A mansidão de Jesus era de coração pelo fato de ser Deus. Ele é o Logos divino, ou seja, o Verbo; a Palavra resultante da razão divina que trouxe o universo à existência (Evangelho segundo João 1:1-3). Para melhor compreensão deste tema, leia o texto O caráter de Logos divino. Ele planejou o soberano propósito, mas também o executou. Foi, portanto, o supremo objeto e, ao mesmo tempo, colaborador de tal propósito. Ele foi o “cordeiro que tira o pecado do mundo.” (Evangelho segundo João 1:29) por ser “o cordeiro morto antes da fundação do mundo.” (Apocalipse 13:8). Resumindo: foi a causa e o efeito. Também por isso é chamado de Alfa e Ômega (Apocalipse 1:8).

Mansidão é obediência proveniente do amor a quem obedecemos. Foi esta a mansidão a qual Jesus advertiu Seus discípulos a dEle aprenderem. Mediante tal fato, preconizou: “Quem tem os meus mandamentos e lhes obedece, esse é o que me ama.” (Evangelho segundo João 14:21). O exercício da mansidão resulta, por sua vez, em humildade. Conforme vimos, a humildade que Jesus nos ensinou é a que foi descrita por Paulo em sua carta aos filipenses. Em tal descrição vemos a contrapartida de alguns atributos que acometem o ser humano por conta de sua natureza caída.

Continua...

2 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. A essência da humildade resultante do evangelho não é pensar em mim mesmo como se eu fosse mais, nem pensar em mim mesmo como se eu fosse menos; é pensar menos em mim mesmo.
    Tim Keller, Ego Transformado, pág 34.

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