segunda-feira, 24 de setembro de 2012

A composição da moral

A razão humana passou a considerar a possibilidade de se fazer o bem à revelia da bondade divina. Ledo engano! A palavra “bom” que aparece em Gênesis no original hebraico é ‘tov’, a bondade suprema originada em Deus. Portanto, o “bem” humano nunca será, de fato, bom. Mas com a queda, ele surgiu.

Matheus Viana

Talvez o trecho do texto O contraponto da moral: As duas árvores existentes no Éden simbolizam as duas morais existentes: a divina – representada pela Árvore da Vida – e a humana – representada pela árvore do conhecimento do bem e do mal (Gênesis 2:9). E a imoralidade, ou a má moral? Essa é produto da corrupção da moral humana. tenha lhe gerado dúvida. Ela foi proposital. Instigar o pensamento é algo que Deus faz ao homem (Isaías 1:18).

A representação de algo é diferente do algo representado. A imagem de um vaso em um quadro, por exemplo, não é o vaso que ele representa. Vaso e sua imagem (representação) são coisas distintas. O mesmo princípio se aplica à representação da moral. Moral é composta de vontade e razão. O filósofo Arthur Schopenhauer, em seu livro Vontade e Representação, fala da coesão destes dois aspectos sobre o ser humano e sua interação com o mundo. Falaremos sobre isso em breve.

Quando afirmo que a árvore do conhecimento do bem e do mal era a representação da moral humana, falo da liberdade que Deus concedeu ao homem em relação à sua vontade e razão. Deus concedeu vontade (capacidade de desejar e direito de escolher) e razão (capacidade de pensar) ao ser humano. Ou seja, deu-lhe uma moral. Com isso, queria que a vontade e a razão do homem o conduzissem a realizar seus feitos segundo a moral divina, que a vontade do ser humano fosse a de fazer a vontade de Deus como consequência de pensar como Ele. Algo completamente diferente de manipulação, onde não existe vontade tampouco ato de pensar. Nietzsche denomina “vontade não livre” como mitologia.

Portanto, vimos que a moral humana, alinhada à divina, produz vida. Isso é diferente do fato de o ser humano ser amoral ou ser tolhido de seu direito de exercê-la. Mas a moral humana sem o fundamento da divina gera degradação e morte. Era exatamente isso que a árvore do conhecimento do bem e do mal representava.

Algo importante a ser salientado é a consciência do bem e do mal. O argumento da serpente foi direto: “Deus sabe que, no dia em que dele comerem, seus olhos se abrirão, e vocês, como Deus, serão conhecedores do bem e do mal” (Gênesis 3:5). Esta é a consciência existencialista que tem influenciado a sociedade pós-moderna. Assim como Adão e Eva, muitos têm colhido tal engodo e comido do fruto da moral humana independente, também chamada de “livre”.

Como vimos, a moral que Deus concedeu ao ser humano era reflexo e desdobramento da divina. Contudo, nela não havia a consciência do bem e do mal. Por quê? Veremos que este “bem” é tão nocivo quanto o “mal”. A moral humana foi corrompida em virtude da obtenção deste conhecimento. A razão humana passou a considerar a possibilidade de se fazer o bem à revelia da bondade divina. Ledo engano! A palavra “bom” que aparece em Gênesis 1:31 no original hebraico é ‘tov’, que se refere à bondade suprema originada em Deus. Portanto, o “bem” humano - que aparece em Gênesis 2:17 e 3:5, cujo original hebraico é 'tav' - nunca será, de fato, bom (tov). Mas com a queda, ele surgiu.

É sobre este “bem” que o apóstolo Paulo elucida: “Mas o pecado, aproveitando a oportunidade dada pelo mandamento, produziu em mim todo tipo de desejo cobiçoso. Pois, sem a Lei, o pecado está morto”. (Romanos 7:8). Eva, ao ser informada de que ao comer do fruto ilícito seria conhecedora do bem e do mal, o cobiçou. Para ela, tal ciência era algo bom. Porém, um “bom” completamente destoante do bem divino. E por isso atraiu o mal.

Paulo preconiza este “bem” (tav) como a Lei e o mal como a cobiça e o consequente pecado. Por isso, podemos concluir que a consciência do “bem” opera sobre a possibilidade de sermos justificados pelas nossas “boas ações”. Paulo enfatiza este conceito quando diz: “Portanto, ninguém será declarado justo diante de Deus baseando-se na obediência à Lei, pois é mediante a Lei que nos tornamos plenamente conscientes do pecado”. (Romanos 3:20). Ou seja, é este “bem”, desprovido da ‘tov’ (bondade de Deus), que nos dá o pleno conhecimento do mal e nos leva a cobiçá-lo. C.S Lewis, em seu livro Cristianismo puro e simples, fala sobre a Lei moral que rege a consciência do ser humano sobre o certo e errado e o bem e mal.

Contudo, esta consciência ressalta a nossa incapacidade de sermos bons conforme a moral divina. O apóstolo Paulo reitera: “Pois o que faço não é o bem que desejo, mas o mal que não quero fazer, este eu continuo fazendo” (Romanos 7:19). Sendo assim, o “bem” que fazemos, pavimentado unicamente pela moral humana, é semelhante ao mal diante da moral divina. Não é a toa que o profeta Isaías afirma que a justiça humana, perante a divina, é imunda como trapo de imundícia (Isaías 64:6).

Jesus disse que é do interior do homem que surge todo tipo de mal (Evangelho segundo Marcos 7:21-23). Agostinho, em seu livro Livre-arbítrio, afirma que o mal surgiu devido à escolha equivocada do ser humano, decorrente do livre-arbítrio que lhe foi outorgado por Deus. Exatamente! O ato indevido trouxe à tona a consciência mortal. E é ela que pavimenta a moral humana. O resultado não pode ser diferente, e ele foi descrito pelo sábio Salomão: “Há caminhos que ao homem parecem direitos, mas no fim são caminhos de morte” (Provérbios 16:25).

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