quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

"Psicose" necessária


Matheus Viana

“Jesus, porém, ouvindo, disse-lhes: Não necessitam de médico os sãos, mas, sim os doentes.” (Evangelho segundo Mateus 9:12).

Afirmação um tanto óbvia. Mas, acredite: ela também é alvo de relativização. Explico. O fato de um indivíduo crer e servir a Deus, desde o advento do iluminismo, é considerado uma espécie de patologia intelectual ou emocional. Sigmund Freud, embora não escondesse sua admiração pelo apóstolo Paulo, classificava toda experiência religiosa – como a que Paulo tivera a caminho de Damasco (representada na imagem acima) – como “psicose alucinógena”.

Este mesmo diagnóstico é considerado, ainda hoje, por psicanalistas. Intrigante. Pois são muitos os casos de infratores da lei que foram “vítimas de psicose alucinógena” e deixaram de cometer crimes, fazendo as pazes com a justiça. São muitos os casos de maridos agressores que, após “sofrerem” desta “psicose”, tornaram-se verdadeiros cavalheiros para com suas respectivas esposas. Outros que abandonaram as drogas, o sexo ilícito, entre outras condutas. Enfim, pessoas que faziam todo tipo de mal e passaram, após se tornarem “psicóticos” de acordo com a psicanálise freudiana, a fazer o bem oposto. Sou testemunha de casos assim.

Imaginemos o planeta Terra tomado por “psicóticos” que, conforme Jesus preconizou, amam os seus inimigos, consideram o próximo ao invés de si mesmos, socorrem os pobres, os órfãos e as viúvas; pais que amam e cuidam de seus filhos e filhos que amam e honram seus pais; maridos que amam e respeitam suas esposas e vice-versa.

Sim, a história é repleta de barbáries cometidas por insanos que usaram o nome de Deus e o poder das religiões para satisfazer seus próprios interesses. O que dizer das Cruzadas? Muito sangue foi derramado em favor de Papas e do enriquecimento da Igreja Católica Apostólica Romana. Milhares morreram e, ainda hoje, morrem no conflito étnico-religioso deflagrado no Oriente Médio entre israelenses e palestinos. Não nos esqueçamos do fundamentalismo muçulmano com todo seu arsenal de terror, tampouco do charlatanismo “evangélico” e de seu mercado da fé.

Tais fatos não são provenientes de uma genuína “experiência religiosa”, mas do uso indevido do fundamentalismo religioso institucional como escudo ideológico em prol de cobiças escusas. Não é esta, definitivamente, a experiência que Jesus propôs à humanidade. Quando fez a afirmação citada como epígrafe deste texto, Jesus estava na casa de um publicano chamado Mateus, comendo junto a pecadores.

Publicanos eram considerados traidores. E os pecadores, impuros para a cúpula religiosa judaica, fonte de segregação social. Mas, como disse, a proposta “psicótica” de Jesus é diferente. Ela visa alcançar todo tipo de pessoa para transformá-la, a fim de que toda sua realidade seja mudada, e para melhor. Claro que tal mudança não implica na ausência de dificuldades. Porém, a vitória sobre cada uma delas é certa. Não é a toa que o “pensador psicótico”, Paulo de Tarso, preconizou: “Em tudo somos mais do que vencedores, por meio daquele que nos amou”. (Romanos 8:37). E o próprio Jesus declara: “No mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, pois eu venci o mundo”. (Evangelho segundo João 16:33).

Finalizo esta breve reflexão com outra afirmação do apóstolo Paulo: "Pois a mensagem da cruz é loucura (psicose) para os que perecem, mas para os que são salvos, o poder de Deus". (I Coríntios 1:18). Qual lado você escolhe? Eu já escolhi: o dos "psicóticos".

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