segunda-feira, 10 de abril de 2017

O brilho das candeias - Parte II

Matheus Viana

Mesmo confessando Jesus como Cristo com os lábios, muitos têm sua cosmovisão guiada pela “luz” do materialismo histórico/dialético, onde toda a realidade é pautada por uma guerra de classes entre opressores e oprimidos. Nela, os oprimidos têm permissão para se rebelarem, num movimento internacional chamado de revolucionário, contra os opressores, que são todos aqueles que exercem algum tipo de autoridade ou meramente discordam dos ideais preconizados pelo referido movimento.

Além disso, o ser humano não tem valor em si mesmo, mas é visto apenas como produto de suas ações e das circunstâncias e mudanças sociais. Em seu estado avançado, a etapa do globalismo, os pertencentes a este movimento passam a ser os opressores, mas agem como se ainda fossem os oprimidos para a manutenção da estratégia revolucionária visando o alcance de seu pleno êxito. Eis o fundamento moral e intelectual de “cristãos” que apoiam pautas como o feminismo, a ideologia de gênero, o aborto, entre outras do referido movimento.
    
Outros são pautados pelo materialismo do naturalismo científico, produto do racionalismo que extrai Deus do universo e, consequentemente, da realidade que permeia o ser humano. Há também os que são levados pelo fluxo da onda pós-moderna, cujo existencialismo propõe o culto aos impulsos e sentimentos, castrando desta forma o bom senso e, de quebra, a ética de Deus sobre o homem.
    
Qualquer luz que não tenha Jesus Cristo como fonte é, na verdade, trevas, conforme o próprio Jesus afirmou: “Portanto, se a luz (fos) que está dentro de você são trevas, quão grandes trevas são!” (Evangelho segundo Mateus 6:23). Jesus, porém, afirmou que se os nossos olhos forem bons, representando neste contexto uma cosmovisão - e, por conseguinte, uma ética - fundamentada Nele, todo o nosso corpo (nossa vida de forma completa) será bom. Tal advertência evoca o seguinte salmo: “Tu, SENHOR, manténs acesa a minha lâmpada; o meu Deus transforma em luz as minhas trevas” (Salmo 18:28).
    
Assim, há lugares específicos para serem iluminados. Quem traz consigo uma candeia, conforme Jesus ensinou, não a coloca debaixo da uma vasilha ou de uma cama. Mas em um lugar apropriado. A questão que surge, de súbito, é: Onde colocar nossa candeia? O primeiro lugar que a Luz de Cristo precisa iluminar é a nossa mente. O apóstolo Paulo elucidou aos coríntios: “Porque o deus deste século cegou o entendimento das pessoas para não lhes resplandecer a luz do Evangelho de Cristo, que é a Glória de Deus.” (II Coríntios 4:4). O texto grego diz “noémata ton apiston”, que é literalmente traduzido como entendimento dos incrédulos. A expressão traduzida como luz é fotismon, que é derivada de fos/fotós.
    
O resultado de se ter o entendimento (noémata, por se derivar dos termos nous/noia) absorto em trevas, por estar distante de Deus, é incredulidade (apiston, que é derivada de pistis - fé). E ela, mesmo sendo efeito, também é a causa de a luz/imagem (fotismon) de Cristo (Ele próprio), que é a Glória de Deus (João 1:14, 14:9), não ser refletida em nosso entendimento e, consequentemente, em nossa vida de forma completa. Por isso o salmista declarou: “Lâmpada para os meus pés e luz para os meus caminhos é a Sua Palavra.” (Salmo 119:105). Lâmpada e luz. Uma lâmpada que não possui luz não ilumina. Logo, não tem serventia. Por isso o apóstolo Paulo advertiu: “Não apagueis o Espírito Santo.” (I Ts 5:19). Advertência óbvia ignorada por muitos cristãos.
    
Entendimento. Eis o fulcro da cegueira humana. Sobre isso, o apóstolo Paulo elucidou: “O que receio, e quero evitar, é que assim como a serpente enganou Eva com astúcia, a mente de vocês seja corrompida e se desvie de sua pura e sincera devoção a Cristo” (II Coríntios 11:3). A expressão traduzida como mente (ou entendimento, conforme outras traduções em português), neste trecho, também é noémata. Com o pecado original, a mente humana foi obscurecida, pois deixou de receber a luz da ética divina, fruto da comunhão com o próprio Deus, e foi cegada pelas trevas do engodo da serpente que lhe propôs uma utópica autonomia em relação ao Criador. A proposta se repete e está em franca disseminação.
    
O apóstolo João escreveu em sua primeira carta: “Esta é a mensagem que dele ouvimos e transmitimos a vocês: Deus é luz; nele não há treva nenhuma. Se afirmamos que temos comunhão com Ele, mas andamos nas trevas, mentimos e não praticamos a verdade. Se, porém, andamos na luz, como Ele está na luz, temos comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus, Seu Filho, nos purifica de todo pecado.” (I João 1:6-7).
    
A afirmação traduzida como “Deus é luz” é, no texto grego, ó Theos fos. No início do Evangelho de Jesus Cristo que escreveu, o apóstolo João afirmou: “Nele estava a vida, e esta era a luz dos homens” (Evangelho segundo João 1:4). O texto grego diz: “en auto zoé én kai én to fos ton antropos”, cuja tradução, próxima do literal, é: “era a própria vida e a vida era a luz (fos) dos homens”. Jesus é a zoé (vida no sentido pleno), e esta é a luz (fos/fotós) dos homens. Quando a vida de Deus, que também é luz, está em nós, refletimos, através de nós, a Sua luz/imagem (fos/fotós). Foi neste princípio que Deus criou o homem à Sua imagem (Gênesis 1:26-27).
    
Não há como sermos candeias sem estarmos ligados, de todo coração, alma, intelecto e forças ao Evangelho de Cristo. Pois Jesus Cristo, A Luz do mundo, é refletido (revelado) através das Escrituras (Evangelho segundo João 5:39).

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